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sábado, 19 de fevereiro de 2011

Cartas Diurnas I

Cartas Diurnas I
Jony Reys


Poemas ocultos. Um vai e vem que se desnuda ante a calmaria do lugar. Gritos emudecidos de êxtase e torpor , alternados, fagulhas entrelaçadas de ilusões e desilusões, vicissitudes de um passado que insiste em não passar. A natureza tímida, parece em harmonia com o letrante, que, em palavras vazias, desconexas, busca ruborizar seus pálidos sentimentos, em instante de impaciente agonia. A taça, agora sem vinho, reflete a face imprecisa. A busca vocabular devaneia ao ronco de trovões e raios dispersos. A terra parece viva, em contraste com a morbidez evanescente de um louco, enfermo, em momentos de lucidez.  A música forte de sambas-protestos, de escolas transversais, luxuriantes, exalam fantasia há ouvidos surdos, entendiados, empobrecidos em imaginações vis. Vulgares de uma vida indefinida. O sol indeciso, reluta em emanar calor, reclames da humanidade hesitante. As falas, longínquas, discorrem corriqueiras, vagas, hilárias, expressivas, voláteis, fúteis, alegres, amargas... nenhuma importante. Em seu giro latitudinal, o homem, não sai do lugar. Inspira-se inválido. A  propensão à ira, enriquece o domínio do mal, e o tempo entristece. Na passagem da aragem matinal a realidade se impõe a elos frágeis dicotômicos de uma idade recalcitrante. Entre o factual e o inquieto cala-se à algazarra interior, vencido pelo destino indiferente. 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Cartas Noturnas I

Cartas Noturnas I
Fevereiro

Jony Reys


Encalorada noite de fevereiro. A chuva passageira faz brotar da terra todo seu calor, o perfume típico invade o olfato e domina todo corpo. A bela cidade dorme. Ao som de grilos barulhentos e cadelas em cio, a noite passa devagar. Os pombos roncam na cuminheira, ocupada como morada, sem permissão. Na TV os filmes se repetem e as notícias, repassadas. A face sombria do ar, retratada nos vôos rasantes de morcegos infelizes, percebe ao longe os passos calculados de felinos insones em telhados inertes. A espera é longa. O banco de memórias rejeita a senha do amanhã. Os sonhos sem sono insistem em não agradar. No infinito, estrelas tímidas teimam em surgir ante o nublado mormaço. No horizonte, luzes da metrópole,  separadas pela baía, ilumina a distância entre o paraíso e o purgatório, a paz e a sobrevivência, a paciência e a insensatez. O desconforto apela a brisa artificial, burlando o silêncio exterior. O pensamento vaga a desencontros, em tempos alternados.  A Lua, embora recatada, não se deixa vencer por nuvens cinzas que teimam em lhe ofuscar. O vazio da madrugada revolve a infame ansiedade e o pecado capital. A jovem quinta-feira nasce lenta, preguiçosa, e o desejo de escrever perece póstumo, no piscar contínuo de olhos cansados, ávidos por Orfeu.