O CASSINO
João Carlos
Estava
a ler Jorge Luis Borges, e seu saudosismo... Que juvenil. O tempo em que não
precisava de passaporte pra cruzar o mundo, que, sempre em guerra, preservava
valores mais profícuos.
O
mundo virou um Cassino afinal, eis a constatação. Os valores foram ficando para
trás, subsistem apenas como moeda de opressão pra manter subjugado os fiéis carregadores
de piano – o povo. Falo do valor humanístico, natural. Mas, o que importa
afinal? O povo, este vive ao labor da tecnologia, embebecido pelo consumismo e embalado
pelas novelas fantasistas do horário nobre. Isto basta. A revelação da
consciência ainda não está por vir, e o pior, parece recrudescer numa nova era
das trevas. O iluminismo se opaca, e os pensantes não veem saída. Nada de muito
revolucionário depois de Marx, seu panteão, com a devida vênia, permanece referência
para adulações e adorações, golpes e revoluções, teorias e maldições.
O
cassino em que vivemos, tem em seu jogo, tudo valer... tudo se corrompe. A
liberdade não passa de uma transação verborrágica que ilude e condena, aliás,
como todas as bandeiras libertárias, foi engambelada por uma burguesia sempre
inovada ao domínio, a manutenção do status
quo, a ressurreição continuada do capitalismo. E neste cassino, lutamos em
várias frentes: para despertar da ilusão das facilidades, para iluminar nossas
mentes em desuso e fatigadas de publicidade do consumo, para recuperar a
essencialidade da vida... a natureza, para amar mais do que comprar, do que vender,
para ser mais do que ter. Para viver mais do que crescer, do que ser barão, ser rei, ou mesmo dono do pedaço, de vidas cada vez mais sem valor.