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domingo, 4 de dezembro de 2011

A Coreia Antiga


A Coreia antiga

Jony Reys

Ladeada de pedras “vivas”...
Minava aos montes rua abaixo.
Em tardes amenas, abrigava o “três, sete”, o “vinte e um”...
Às sombras de mangueiras envelhecidas, estéreis.
Tendais de peixes salgados, ressecos ao sol, se espalhavam.
A cisterna - água de gasto.
De um lado o barreiro, do outro o brejo.
Às noites, sonatas de pererecas e coros de sapos-boi – um inferno.
Sem falar das muriçocas, maruins, morcegos e corujas, grilos e pernilongos...
a despertar a ira dos caboclos e caboclas do mar.
Na esquina, a escuridão encobria amantes ocultos.
Na venda... Prateleiras vazias, empoeiradas,
Apenas umas poucas garrafas de “jacaré” e “milome”.
Nas madrugadas, os homens em fila, partiam para o “calão”.
Mais tarde, não muito, as mulheres a mariscar na maré baixa.
A vida nada fácil passava lentamente.
E no tempo? Ah... no tempo, a Coréia antiga tem muito pra contar...
... histórias de um passado que parece lúdico, cravadas por
Crioulos, mulatos, negros verdadeiros... nas frontes das novas gerações.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011


Casa de Palha

Jony Reys
A casa de taipa, teto de palha.
Ao lado a muringa pra matar a sede.
No caneco o resto de pinga.
Na pingueira... a chuva que nunca caía.
No distante céu... uma lua que não podia amar.
No coração um amor ditoso... apenas em fantasia.
Na parede um lampião... em crepúsculo.
No canto um purrão encardido... que há muito não via água.
A porta... em fendas... via-se o horizonte vazio... sem vida.
A janela... de saco de alinhás ... tornava sombria a casa de sala só.
Nas idéias... passagens da vida ida.
A celestina não tinha mais brilho de moça.
O bule a espera do café que não via há muito,
Descansava longínquo em banca de três pernas.
No corpo um lençol outrora branco,
Cobria a tez em rugas... envelhecida.
A cama, em chão batido, uma dor arraigada.
No tempo um passado que não passou,
No peito, uma esperança que nunca sentiu...
... um mundo que o mundo nunca olhou.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Sobre Todas as Coisas

A Origem

Faz um tempo que a sombra da vida do lugar era feita de mangueiras, cajueiros, em meio ao passar desse tempo o nublado das nuvens fora contaminado de sombras mais hostis como maldades de bruxas de tela menor e falta de identidade, de tradição hoje ignorada.
O beco íngreme era passagem obrigatória nas madrugadas frias e chuvosas, e nas madrugadas de mormaço, e nas tardes de descanso...
No poente o três sete segue com jogadores concentrados.
Tah, sentado ao lado,  era o camarada pensador, divagava na sua filosofia e falava palavras difíceis que não conhecia o significado direito e mal sabia pronunciar, mas insistia. Falava de coisas como conversação e via na prosa a arte de viver.
Passando a limpo a pescaria do dia anterior, Tah falava sobre a vida e o que aprendera em relação a expressão: “o mar não tá pra peixe”, não estava. 
Falava de coisas que não entendia, da história da criação...
... Questionava São Domingos, o padroeiro, um relacionamento um tanto deteriorado naqueles dias, em que o pescado era raro, lembrava que poderia, com uma canoa  maior, de mais cavernas, uma rede de fundo que pudesse trabalhar de verdade, mataria o cardume perdido, com mais sorte talvez, mas, que sorte?, Tah não acreditava na sorte, era temente as coisas da natureza... apenas, mas só a elas: a trovoada, os relâmpagos, o que podia ver... mas que não podia controlar.
Calculava o quinhão de cada um e tinha preceitos especiais para sua parte, nunca vendia tudo.
 Balbuciou: "Diz que Deus criou tudo, que Deus é sabido, que Deus é perfeito, mas né não, se fosse não deixava a gente nessa pindaíba, todo dia, sem um peixe... que Deus bom será esse que não vê o que a gente passa?".
Dudô era um moreno esguio, forte por natureza, de poucas palavras... ousa porém em refutar: "mas se não foi Ele, quem foi homem?" Tah, sem nenhuma cerimônia dizia: "o homem, esse sim inventa tudo, acho mesmo que inventou Deus, só para humilhar a gente, pra dizer que a gente é fraco, burro, que não sabe de nada"...
No que Moque, mais religioso, entra na prosa da história e diz: "Vocês não sabem de nada... nem vocês, nem homem nenhum... Deus só deixa saber o que ele quer, e se a gente não matou aquela mancha, é porque Ele não quis, Ele manda é em tudo, e você Tah é um infame falando assim Dele, por isso que nós perdemos o peixe"...
Tah volta a retrucar, zangado: "Porra de nada, daqui a pouco você vai dizer que sou excomungado, e culpado de perder o peixe... vou dizer uma coisa... O mundo começou quando a Natureza quis, e só aqui, na Terra... e o homem nasceu de outro homem, e o peixe nasceu de outro peixe, e o homem come o peixe, e a terra come o homem, e o peixe come a terra"... assim que é".
Pastinho, o velho, comenta a meias palavras... "você diz muita besteira Tah, só Deus pra te perdoar, mas, você está certo numa coisa, a gente está  esquecido por São Domingos, três semanas, sem trazer nada, o Santo não liga mais pra gente" ... Batido, grita na roda Domingos anunciando a vitória na partida do três sete, sem interesse no rumo da prosa.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Sobre as Festas Populares - agosto/janeiro

João Carlos

Há muito que se discute a questão das "Festas Populares" (agosto/janeiro). A mudança para área de eventos tem gerado polêmica, mas, defendo a transferência.
Saubara cresceu e não há espaço nas vias públicas para festas deste porte. Além do mais, os tempos são diferentes e a poluição sonora hoje incomoda muito, principalmente aos mais velhos.
Idéia: Manter as festas na área de eventos, mas NA FORMA ANTIGA.
As festas terão que ser para as famílias.
Na área de eventos:
Quermesses - Parque Infantil - Filarmônica - Apresentações Culturais como:
Cheganças, Samba de Roda, Burrinha, Barquinha, Zé do Vale, Ternos, Ranchos, etc... e cantores(as) populares.
Deve-se criar outra área para festas de camisas para pagodes e coisas do gênero, nesta data.
Dessa forma manteremos a tradição e ofereceremos opção para os jovens que gostam de atualidades...
É uma discussão que rende, mas aí está uma idéia para reflexão!!!!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O vinho e o circo

 O vinho e o Circo

Jony Reys

A praça, pequena, tem um carisma estranho que brota de dentro nos nativos e aflora nas faces rubras dos visitantes, expostos ao sol... nela o tempo passa ao largo... o mundo gira em seu torno... bébados tristes e sóbrios disfarçados circulam sem alternativa num trânsito de difícil entendimento... caras e bocas se encontram... se comparam... se atraem... se arredam, num deslavado e contínuo gesto de grandeza imensurável... de sentido duvidoso... olhares se cruzam e se repelem, se cruzam e se cumprimentam, se cruzam e se admiram, se cruzam e se chocam, tal a diversidade.
A horda permanece esma, o álcool ilude inflamando a imaginação... desventurados os que não usam seu apelo... pois a estes não cabem o reino da terra... da bacanália... do prazer... viva Baco afinal!!! Que importa? a beleza disforme desfila tresloucada no triângulo irregular ... os de fora, estes embebecidos não questionam a razão... e cantam ... e dançam... e curtem...
Os de dentro, eufóricos, navegam com olhares tentados em corpos à mostra... deliciam-se... embriagam-se...
Na volta do som, bandinhas alimentam o império de Eros e a vida passa a ser bela... e todos são maravilhosos... o prazer movido ao vinho exalta o desafio de viver o circo, da gente que num instante febril vive a natureza plena... sem medo de ser feliz. 

domingo, 24 de julho de 2011

Cartas Noturnas III

Cartas Noturnas III
Uma noite de inverno

Jony Reys

Na mente a passar... segue o tempo de inverno pálido e noites de frio maleável... lá fora, víboras se entocam e preparam botes sem fins, sem glória. A alegria resplandece breve ante a brisa leve, gélida, sem machucar a face longínqua, silente... e todos se preparam para o profano.

A aragem, ainda que lânguida, sopra a quatro cantos e instiga a inspiração. Ao fundo, o sobrado cumplicia a vida que corre ao longe, que vaga ao olhar... Na baía, a garoa cai despretensiosa, ferindo branda as águas mornas que banham o magnífico litoral. Cronos invade os dias, desavisado e lépido... não teme a eternidade. O bananal do quintal ao lado sombreando os raios lunáticos refletem a penumbra de formas sombrias e horripilantes... serve bem aos morcegos, em especial aos vampiros, para dias assim. Do formigueiro, agitado durante o dia, não se vê as operárias em seu transe cotidiano.

Em retorno ao horizonte luzes toscas refletem o mar vazio... as canoas, hora recolhidas, não desafiam a tempestade anunciada.

O cronista passeia na circunferência a cento e oitenta graus e no ocidente, depara com a visão sacra do prédio tricentenário, torres em riste para o céu, revela imponente seu sagrado, impondo inconteste sua autoridade... Ao lado, o lugar comum... a terra dos mortos, em área de nobre beleza, a contemplar a bela terra de São Domingos de Gusmão.

A face inerte revela enfim a realidade que transcende a tudo e todos... que se fará presente e resoluta sempre e para sempre... a verdade quântica... que a todos pertencem e não é de nenhum... A noite que chega e confidencia seus segredos... os mais profundos... se afirma enquanto fonte da eternidade, que inimaginável , jamais se revelará.

domingo, 24 de abril de 2011

O Baile de Aleluia


O Baile da Aleluia

Jony Reys



Tenho ficado longe da noite do lugar. 
Ao baile, fui compelido a ir... Na companhia de um amigo intelectual, passamos a noite a divagar sobre a vida, a política, as incertezas do futuro. 
Sobre o show não gostei do cover, por isso mesmo não me liguei no nome... 
O momento de arte ficou com o anfitrião, um grande cantor popular ainda sem celebridade. 
O salão nunca esteve tão bem produzido, ressalva, a estratificação hilariante da suntuosa elite das mesas... não havia alegria naquelas faces. 
No salão, ao contrário, dançarinos bailavam num ir e vir arrochado, mostravam felicidade. 
As conversas, diferentemente da área reservada, fluíam com o motivar alcoólico de sensações duvidosas. 
As indumentárias variavam conforme a ala e as moças balzaquianas desfilavam leves de lá pra cá. 
Faltavam os pós-infância, o preço talvez fosse de influência distintiva. No ambiente, políticos a articular, sem muita audiência. 
Moças solteiras dançavam em pares... e, as casadas, sem rumo, faziam um triste solo em espaços vazios; Sorrisos forçados, buscavam alguma diversão. 
As mulheres eram a maioria. 
O tempo corria livre e entre papos lúdicos e picantes, um grupo exibia frugal simpatia. 
O anfitrião, trajado a rigor corria o largo, distribuindo amável, votos de agradecimento. 
A paz se fazia reforçada, homens treinados desfilavam com rádios de comunicação, em transparente segurança. 
O bar... bem... o bar não abrigava ébrios de outrora, insistentes em "furar" um copo de cerveja... não se via os "simidão"; Convidados agradecidos. 
Hora avançada, o baile termina lento... Cansados, articuladores decaídos sobram só nas mesas vazias... e os dançantes, esses, retiram-se aos poucos para o descanso madrugal, velados na exigência de corpos fadigados.
O artista, entre a êxtase do sucesso e a fatiga da noite, mira largado o instante crepuscular

terça-feira, 19 de abril de 2011

O Retorno

O Retorno

Jony Reys



Enfim o retorno... A vida, ah! esta por certo não voltará ao normal... a face sofrida, as tormentas passadas, o temperamento controlado, mas nem tanto: apenas disfarces... Remete a decisões por necessidade, pensadas, sem garantia de precisão. As vãs tentativas de sanidade gestora esbarram sempre no infortúnio de administrar o Poder. Que rios terá que navegar, para não se afastar do rumo sonhado? A vida parece renovada, mas, as incertezas cotidianas parecem às cegas e o "mar não está pra peixe" diziam os mais velhos. A crise oriunda do desarranjo institucional embolou o "meio de campo" e a partida aparenta começar do zero, tantos são os jogadores que se lançam ao Duelo. O velho sábio poderia ajudar, pois nem sempre na prata da casa encontramos o melhor artilheiro, e a recompensa poderá vir sempre de onde não se espera.
As noites, que penetram sempre em pensamentos sombrios e devaneios ilógicos, ajudam e atrapalham, não dá todas as respostas, e para o jogo de xadrez, parecem faltar pedras e o rei não encontra seu bispo para dar o xeque mate. O tempo aparece nublado, e tempestades não são de fácil presciência. O jogador se faz bravo e parte para a nova peleja convicto da vitória, entretanto, carece de confiar no novo, no desconhecido, no incontrolável, para poder despertar triunfante e permanente, numa história que pode apenas estar começando, ou, de outra forma, firmando seu crepúsculo sem final promissor.

domingo, 13 de março de 2011

CARTAS NOTURNAS II - Cinzas do Carnaval...

Cartas Noturnas II
Cinzas do Carnaval

Jony Reys


Três dias de folião... entre pierrot’s e colombinas, piratas e travestidos e os mascarados... os mascarados... as fantasias como peças impecáveis do melhor dos alfaiates, esmeradas a cada personagem, a cada grupo, a cada drama... O pão e o circo...isto é carnaval. Que venha o pão, que venha o circo, não é dever ser sério todo o tempo, a humanidade precisa de trégua... entre marchinhas e pagodes, segue na falsa apoteose, brilhantes rufiões. A noite adentra em saudades, ou não... da varanda emprestada, resistentes manguezais insistem em manter a vida, em refletir beleza para os poucos que a reconhecem. Caranguejos raquíticos teimam em sobreviver, sufocados por estrumes humanos que lhes impõe a retirada, em luta desigual. No calor do quarto escuro, um passeio entre sonhos e a realidade, entre toda gente que é, e o que deveria ser... tênues esperanças celestiais. Ouve-se ao fundo, uma canção repetente de grilos artistas, na marcação... o ruidoso ventilador de teto, cansado pela útil vida, corroído pelo fronteiro salitre.

No tempo do cronista um despertar noturno, flagrante, preenchido pelo festival... a passar lentamente pela ofegante noite... um rufar de tambores e informações lhe cortejam a mente... os neurônios em plena, insaciáveis e insolúveis... a vida exige ordem no ocaso carnavalesco e mundo retoma a rotina de realidades febris e decorrentes... sementes para um novo amanhã, que não tardará chegar.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Cartas Diurnas I

Cartas Diurnas I
Jony Reys


Poemas ocultos. Um vai e vem que se desnuda ante a calmaria do lugar. Gritos emudecidos de êxtase e torpor , alternados, fagulhas entrelaçadas de ilusões e desilusões, vicissitudes de um passado que insiste em não passar. A natureza tímida, parece em harmonia com o letrante, que, em palavras vazias, desconexas, busca ruborizar seus pálidos sentimentos, em instante de impaciente agonia. A taça, agora sem vinho, reflete a face imprecisa. A busca vocabular devaneia ao ronco de trovões e raios dispersos. A terra parece viva, em contraste com a morbidez evanescente de um louco, enfermo, em momentos de lucidez.  A música forte de sambas-protestos, de escolas transversais, luxuriantes, exalam fantasia há ouvidos surdos, entendiados, empobrecidos em imaginações vis. Vulgares de uma vida indefinida. O sol indeciso, reluta em emanar calor, reclames da humanidade hesitante. As falas, longínquas, discorrem corriqueiras, vagas, hilárias, expressivas, voláteis, fúteis, alegres, amargas... nenhuma importante. Em seu giro latitudinal, o homem, não sai do lugar. Inspira-se inválido. A  propensão à ira, enriquece o domínio do mal, e o tempo entristece. Na passagem da aragem matinal a realidade se impõe a elos frágeis dicotômicos de uma idade recalcitrante. Entre o factual e o inquieto cala-se à algazarra interior, vencido pelo destino indiferente. 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Cartas Noturnas I

Cartas Noturnas I
Fevereiro

Jony Reys


Encalorada noite de fevereiro. A chuva passageira faz brotar da terra todo seu calor, o perfume típico invade o olfato e domina todo corpo. A bela cidade dorme. Ao som de grilos barulhentos e cadelas em cio, a noite passa devagar. Os pombos roncam na cuminheira, ocupada como morada, sem permissão. Na TV os filmes se repetem e as notícias, repassadas. A face sombria do ar, retratada nos vôos rasantes de morcegos infelizes, percebe ao longe os passos calculados de felinos insones em telhados inertes. A espera é longa. O banco de memórias rejeita a senha do amanhã. Os sonhos sem sono insistem em não agradar. No infinito, estrelas tímidas teimam em surgir ante o nublado mormaço. No horizonte, luzes da metrópole,  separadas pela baía, ilumina a distância entre o paraíso e o purgatório, a paz e a sobrevivência, a paciência e a insensatez. O desconforto apela a brisa artificial, burlando o silêncio exterior. O pensamento vaga a desencontros, em tempos alternados.  A Lua, embora recatada, não se deixa vencer por nuvens cinzas que teimam em lhe ofuscar. O vazio da madrugada revolve a infame ansiedade e o pecado capital. A jovem quinta-feira nasce lenta, preguiçosa, e o desejo de escrever perece póstumo, no piscar contínuo de olhos cansados, ávidos por Orfeu.