Total de visualizações de página

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O PREÇO DO SILÊNCIO

O Preço do Silêncio

Jony Reys

Estava a admirar o Ocaso, tarde dessas, e uma vontade de ler Drumond arrebatou meus pensamentos. 
Ao cair o negrume da noite sobre as árvores resolvi me deleitar com suas poesias. 
De repente, chegando do nada e se instalando em lugar algum, um som de pagode, desses mais inaudíveis, nas alturas de meu Deus... Enlouqueci. 
Parei o livro e me dediquei a ler a "Lei de Poluição Sonora", que bom se fosse entendida, fiquei a matutar.
O vento, depois de algum tempo de pirraça, levou o estridente poluidor. 
Fui ao banho para relaxar e isto feito voltei a ler Drumond, sem o mesmo entusiasmo. 
Nessa altura, a TV do quarto anunciava a novela das sete, ainda baixinha. 
Respirei fundo e passei a me concentrar nas crônicas, esquecendo as poesias, e o encanto do original ocaso. 
Não incomodava tanto a barulheira das crianças na rua, mas, eis que surge aos meus ouvidos um grito cortante... Aleluia.
Pronto, era o pastor da igreja do fundo da casa berrando ao tempo, temendo que Deus não o escutasse.
Sede crente, era a pastora da igreja da frente, aflita ao gritar a sua fé, pouco importando a tal Lei. 
Mas, uma Lei? Lei dos Homens? O que vale é a sua Lei de Deus, deve pensar. 
E esta precisa ser bradada aos quatro cantos, e que se dane os jornais, as novelas, os livros, ou outras opções que queiram a vizinhança. 
Mas, e Deus? 
Quem disse que Deus é surdo? 
A TV do quarto passa a narrar o pastelão das sete às alturas. Minha mãe, uma octogenária católica tradicional e fervorosa me liga: "Filho não posso rezar com essa zuada, Deus quer ouvir a todos" lamenta. 
Ah! Quantos dízimos seriam suficientes para as igrejas respeitarem a Lei (dos Homens)? 
Ah! Quantas cervejas seriam necessárias para o ébrio do carro que arranhava o maldito pagode? 
Quantos doces para a criançada brincar quieta? 
Qual o "Preço do Silêncio" para, de volta ao Ocaso, termos tempo de contemplar a vida e a poesia?